domingo, 11 de março de 2012

«Por que razão damos tão pouca atenção à nossa vida interior?

 Deus de Surpresas, de Gerard W. Hughes, pp. 32-33


«Por que razão damos tão pouca atenção à nossa vida  interior?

É extraordinário que dêmos tão pouca atenção a esta vida interior, na qual se encontra a chave do nosso comportamento. Parecemos cavaleiros em cima de cavalos bravos. Empinam-se, mergulham dão guinadas. Ignoramos por completo por que razão se comportam dessa maneira [«não sei o que é que me deu. Não sei porque fiz aquilo»], e de repente gasta-se-nos toda a energia e a ingenuidade a tentar não cair da sela abaixo, seguindo pela vida fora penosamente empinados em cima do animal. A resposta mais evidente seria entender e amestrar o cavalo, só que nós somos daquele tipo de cavaleiros que acha essa abordagem um bocado mórbida e pouco científica. Temos  a mania de achar que o cavalo tem de ser ignorado e que a cavalgada tem de prosseguir, custe o que custar. Dizem-me que na Armada só aos praças são permitidas emoções: os oficiais estão acima desse tipo de coisas! Até no seio da ordens religiosas circula este conselho: «Não ligues aos sentimentos».


O cavalo é a nossa vida interior: embora seja ele a fonte da direcção que tomamos e a energia que nos abastece para a caminhada pela vida fora, tendemos a ignorá-lo, devido à impossibilidade de medirmos a vida interior em termos quantitativos e à nossa mania de supor que o que move o mundo são os números, e não o amor. 

Divinizámos a razão e a quantidade e diabolizámos a emoção e a qualidade; não admira que a emoção, como donzela preterida, se vingue à socapa. Se não forem reconhecidas e amestradas, as emoções preteridas acabam por nos destruir.»


Sem comentários:

Enviar um comentário